quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Quando o seu perfil social é mais importante que seus atributos profissionais.

Hoje, seja no campo pessoal ou no campo do trabalho, essa questão da rede social vem sendo bastante discutida, seja no âmbito do senso comum ou no âmbito cientifico. Esse espaço cibernético vem ganhando novas formas de comunicação principalmente no que diz respeito as novas formas de interação social entre as pessoas, as formas como elas se socializam, se conhecem, aprendem, escrevem, divulgam seus conhecimentos e aprendem também com outras divulgações de amigos ou seguidores. Em paralelo a isso, o que também não deixa de ser discutido é o comportamento das pessoas dentro dessa mesma rede, o que elas deveriam postar, quais fotos publicar, entre outras nuances que vemos bastante por aqui. Alguns consultores empresariais inclusive chegam a dar dicas do que se pode ou não fazer dentro da rede para que não “queime” seu filme no trabalho e preserve sua boa imagem, porém, levanto sempre a questão quando escuto essa “dica”, boa imagem para quem? No caso é sempre para o empregador. E o que é afinal uma boa imagem? Baseado em quais parâmetros podemos dizer que uma pessoa tem ou não uma boa imagem? Vejam o caso que aconteceu com um colega no qual era bem qualificado para o cargo, com um currículo bastante invejável, funcionário a pelo menos 20 anos e sempre muito elogiado por sua competência no trabalho, mas que no final, não serviu para muita coisa pois teve sua demissão anunciada por conta de uma publicação no facebook. Essa pessoa, assim como todos nós, em uma noite de domingo apos um jogo de futebol do time que em torcia postou uma foto na balada segurando um copo de cerveja com a camisa aberta, após vários colegas e clientes terem comentado e questionado sua postura pois, um empresario com a função que exercia não deveria se expor daquela forma o comentário acabou chegando ao ouvido da supervisão que o demitiu uma vez que aquele tipo de foto não estava dando uma "boa imagem" para a empresa e como se não bastasse, associou o atraso dele  de 10 minutos em uma segunda feira a noitada do dia anterior, não houve dialogo, não houve entendimento, houve demissão. Outro caso que causou certo desconforto também no trabalho foi a postagem de uma funcionaria que em um sábado chuvoso fez a seguinte publicação em uma rede social "Sabado sem nada pra fazer", mais do que depressa, alguém de uma função maior também sem nada pra fazer comentou "Que tal fazer os relatórios para segunda?", ou seja, a funcionaria tem que trabalhar de segunda a segunda. Outro caso bem comum é o da professora da PUC onde fez uma postagem preconceituosa a respeito de uma cena em que viu foi afastada, afinal, uma professora de ensino superior não poderia proferir tais argumentos. A questão do politicamente correto, das boas maneiras, vem tomando uma proporção maior do que o  currículo profissional e esse acaba por destituir a pessoa de qualquer valor, ela passa a ser crucificada e não mais ninguém, nem pessoa e tao pouco profissional, é como se a esvaziasse totalmente de sentido, de existência. O facebook para as pessoas que o utilizam como um perfil privado, ou seja, utilizam para postar coisas relacionadas ao seu cotidiano, fotos, videos, opiniões, questões sobre sua vida privada, politica, religião entre outros assuntos que vemos bastante por aqui, acaba por se tornar uma extensão da vida profissional, onde todo cuidado é pouco. Bauman, sociólogo polonês preocupado em compreender a sociedade pós-moderna vem discutindo essa questão do publico e do privado e o porquê das relações sociais no que diz respeito a internet serem tao superficiais. Em discordância com o autor, não acredito que as relações sociais são superficiais, ao menos, não todas, ao contrario, algumas podem vir a se tornar autenticas e profundas, relações essas que podemos comprovar cotidianamente perguntando as pessoas que construíram relacionamentos por internet, ou fizeram amizades pela mesma, sem falar também, no quanto ela aproxima as pessoas queridas que por algum motivo estão distantes de nós, porem, estou em plena concordância quando o mesmo coloca a diferença de comunidade e rede onde a comunidade é precedente ao indivíduo, já nascemos inseridos em uma cultura social e o mesmo não acontece quando adentramos a rede. Os “amigos” na rede social aparecem com mais facilidade e com essa mesma facilidade eles deixam de fazer parte do nosso perfil, esse é o principal complicador da rede, a facilidade com que desfazemos nossas “amizades” por intolerância. Não ser mais amigo de alguém dentro de uma rede social é uma tarefa bem fácil quando não se tem um laço afetivo fora dela, simplesmente deletamos sem qualquer justificativa, não é necessário se explicar, se justificar, a capacidade de dialogo e de resolver maus entendidos ficam em defasagem, alias, eles não são necessários. A pergunta que faço é, por que deixamos de ser amigo de alguém nas redes sociais? Alguns respondem por não ter afinidade, outros por não terem pensamentos em comum, mas a grande maioria responde, por não suportar suas publicações, ou seja, é por intolerânciaessa vem se mostrado com bastante frequência onde não se é mais suportado ver as diferenças, onde os pensamentos tem que ser convergentes e nunca divergentes, caso seja, a solução é simples, clico no botão desfazer amizade e pronto, perde-se um amigo, mas isso não importa, amanha conseguirá mais dois e assim sucessivamente. Perdemos a capacidade de dialogo bem definida por Bauman, tudo agora soa ataque, pessoas magoadas e ressentidas, com uma capacidade limitada de raciocínio e de discussão, não conseguem mais manter um debate, não conseguem dialogar, ter ao trabalho de questionar o porquê de determinadas posições e colocações, muitas não querem nem obter mais informações sobre determinado assunto simplesmente por não concordar com ele, respondem com agressividade, são ainda pueris no que diz respeito a tolerância e principalmente por não entender que um perfil pessoal publico, continua sendo um perfil pessoal publico e os mais melindrosos e intolerantes, acabam deturpando varias questões e caindo em atitudes completamente sem sentido, principalmente no que diz respeito ao ambientes de trabalho que é um fato que vem me causando grande preocupação a respeito de como os “chefes” veem seus funcionários na rede social onde há uma confusão do que é um profissional e uma pessoa que publica não como profissional, mas como mero cidadão na rede social. Não são raras as pessoas que leem qualquer publicação, veem uma foto ou um determinado tipo de postagem e por questões particulares, seja por ideologia religiosa, politica ou qualquer outra não se incomodem e assumem uma postura rude e de julgamento, as vezes ate de linchamento, pautadas em um discurso de que um professor, um filosofo, um psicologo ou qualquer profissional seja de que área for não deve publicar certas coisas ou emitir certas opiniões, o que é um erro. Somos bastante intolerantes em relação ao outro e há um desconhecimento a respeito do que é um ser profissional e um ser pessoal. Alguns já me questionaram quando vou na defesa dessa ideia se eu não acho que determinados profissionais influenciam socialmente com suas opiniões, minha resposta é simples, sim, qualquer pessoa influencia a outra com suas opiniões, seja ela profissional ou não, para isso existe o tao conhecido conselho, porém, a discussão não é essa, os profissionais devem se manter dentro das discussões que envolvem a ética a respeito dentro de suas respectivas profissões, isso sim é uma questão a ser discutida dentro de um ambiente de trabalho, eu enquanto profissional de psicologia tenho como ética o cuidado, o respeito e o sigilo pelas pessoas que venham me procurar, tenho que zelar por isso, logo, não posso sair publicando em meu perfil social coisas relacionadas a elas, pois, isso sim me desqualifica profissionalmente, diz respeito a um parâmetro ético da minha profissão, outra coisa é eu dizer que deus não existe por uma infinidade de questões ou postar uma foto de top less na praia, uma coisa é a opinião do profissional enquanto formado na área, outra é a opinião do mesmo profissional como cidadão comum, é disso que estou falando e é isso que eu vejo ocorrer já com frequência alarmante nos ambientes de trabalho, isso é inclusive propagandeado pela internet e em palestras que assisto e que me deixam profundamente indignada em que um palestrante bem importante nesse ramo disse a seguinte frase “Analisamos nossos profissionais pelo que eles publicam e principalmente pela forma em que se comportam”, eu não sei se as pessoas ali presentes se deram conta do quanto isso é problemático e do quanto a intolerância e o desconhecimento do que é de fato um profissional nos torna escravos desse sistema onde minha aparência, (que sera o próximo tema desse blog), meu comportamento, minhas publicações e minhas fotos ganham um valor maior que o meu próprio currículo, é de indignar qualquer profissional que estudou e batalhou anos, dizeres assim nos desqualificam, é melhor fazer uma impressão do nosso perfil nas redes sociais e entregar do que gastar tempo elaborando um bom currículo lattes ou vitae. Penso que esta na hora de analisarmos que se um contratante te analisa através de uma rede social, ou de uma foto publicada em uma ocasião fora do ambiente de trabalho não sabem reconhecer o que é um profissional que presta um serviço de qualidade e uma pessoa em sua intimidade onde demite, afasta, causa mau estar como nos casos em que citei acima sem reconhecer o seu valor profissional, seu tempo de experiencia e seus trabalhos muito bem executados, pois afinal, é isso que importa. Chegou o momento de pensar que se alguém coloca quaisquer características das citadas acima em prioridades, alem de ser um ato totalmente discriminatório denota que é intolerante, não sabe lidar com as vicissitudes humanas, com as adversidades de opiniões, com o diferente e fica a pergunta, vale a pena trabalhar com uma pessoa dessas? Eu penso que não, pois, é dor de cabeça na certa! 

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