segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Sobre a profissão de pesquisador.

Ontem me deparei com um discurso na Cancão Nova no qual não deveria ficar, mas fiquei, indignada. Um antropólogo, padre, argumentou de forma preconceituosa a profissão pesquisador. “As pessoas só pensam em estudar, tem bolsa de mestrado, tem bolsa de doutorado, trabalhar mesmo ninguém quer”. Como assim trabalhar ninguém quer? Trabalho agora está remetendo a sair de casa por 8 horas, onde, muitas das vezes, vide os cargos públicos, as pessoas fingem trabalhar, cumprem tabela, porque é isso que vem se tornando alguns empregos, encosto de trabalhador, claro que não falo de todos, mas se você se doeu não é problema meu, porem, isso não vem ao caso. A questão é que o pesquisador, seja ele vinculado a uma universidade ou não, dedica grande parte do seu tempo, as vezes ate mais do que 8 horas por dia, sentado a frente de um computador digitando artigo, levantando dados, maquinando entrevistas, viajando para congressos, não galera, o pesquisador empenhado muito diferente do que pensam, não vai para congresso pra passear e encher a cara, ele está envolvido de verdade com os temas ali trazidos. O trabalhador “oficial”, tem ferias, decimo terceiro, segurança, fgts, descansa finais de semana, viaja sem pensar em trabalho, tem uma jornada de no máximo 8 horas por dia e depois pode relaxar e tomar aquela cerveja com os amigos dizendo a clichê “Hoje é sexta feira”. Pesquisador não tem ferias, pois mesmo quanto esta vinculado a um centro de pesquisa ele ainda assim, tem que pensar nos artigos que ainda esta por fechar, não tem decimo terceiro, não é reconhecido enquanto trabalhador braçal pois uma grande maioria, aqueles que não estão envolvidos com o exercício da docência ( essa sim é reconhecida, mas o nome que se carrega não é pesquisador, é, professor universitário o que dificulta até a questão salarial por conta desse nome técnico) ficam em casa, no laboratório, na comunidade, no hospital, enfim… em qualquer lugar onde exista a possibilidade de uma pesquisa cientifica, lendo, estudando, produzindo as vezes ate mais do que 8 horas por dia, finais de semana, feriados e muitas vezes tendo que dividir seu tempo com outro trabalho, porque nem todo mundo vive só de pesquisa principalmente porque não são todos os pesquisadores contemplados com uma bolsa, tiram do próprio bolso os materiais necessários para a realização da mesma e eu escuto uma pessoa graduada em antropologia dizer nas entrelinhas que pesquisador não trabalha, que ele quer regalias do governo, vulgo, bolsa, no minimo piada, valeu governo por pagar essa micharia para nós, pesquisadores, que trabalhamos mais do que 44 horas e ganhamos menos do que os que trabalham 20 e detalhe, muitas vezes pesquisadores não se aposentam, ai, me deparo com um cidadão que deveria se mostrar estudado ,propagando esse tipo de argumento. Penso que ele se esqueceu que se temos o que temos hoje, foi graças aos nossos pesquisadores que se dedicaram em tempo integral para que pudessem trazer novos conhecimentos para o mundo senão, iamos todos, e alguns ainda continuam, no mundinho fechado da igreja a espera de um milagre divino. Quero ver o que será do mundo quando os pesquisadores resolverem fazer greve e virarem técnicos do conhecimento.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Não posso compartilhar que detesto meu trabalho, mas posso compartilhar que amanha é sexta feira ou que vem ai um feriado com mil emendas!

Eu sempre tive uma questão com a forma em que chefes ou sei la como chamam gerenciam, primeiro pela questão opressor/oprimido e segundo pela questão egoica muitas vezes fragilizada no que diz respeito as redes sociais e também, por conhecer vários amigos meus competentes que perderam seus empregos por postagens em redes sociais porque o chefe não soube ler, refletir, questionar e ate, ignorar. Vi em um jornal, um consultor que dava dicas de como se comportar no ambiente de trabalho e fiquei a refletir. Já começo o texto frisando que pra mim, quem fica analisando postagem de funcionário em rede social tem uma puta falta do que fazer alem de ser um tremendo afetadinho e ter uma mente bem atrofiada para ver apenas um lado da questão principalmente porque uma rede social não é a extensão de uma empresa, é a extensão da nossa vida e eu acredito quem nem deveria ser, mas as pessoas tem necessidade de compartilharem coisas que para elas são importantes como sentimentos, momentos com outras pessoas, indiretas, diretas, cotidiano, entre outras coisas, se é errado ou é apenas questão de ponto de vista. O que me chamou a atenção na reportagem foi justamente quando o sujeito diz que muito mais do que nossos atributos acadêmicos o comportamento DETERMINA o nosso sucesso ou fracasso, ou seja, não importa o quão bom somos, temos que nos comportar bem nas redes sociais que é nossa. Não sei muito bem o que seria o se comportar bem, mas penso eu, que não é curtir, compartilhar ou publicar coisas que fazemos diariamente fora do local de trabalho, como: “Hoje meu trabalho foi um saco”, “Atoa aqui”, “Meu chefe dormiu de calça jeans”, “Graças a Deus acabou o expediente” entre outras coisas que podem “queimar nosso filme” caso nosso superior visse. Avaliar pessoas pelo que postam é no minimo cruel visto que muita gente tem a necessidade de se mostrar extremamente boas quando na verdade nem são, acho inclusive, pelo menos é o meu caso, que tenho vários chefes e ex-chefes na minha rede social que me conhecem profundamente e sabem do meu todo e não apenas a parte bonitinha da Nany justamente pelas minhas postagens, alguns concordam, outros discordam, mas todos entendem que é uma forma de pensar. Julgar as pessoas por publicações em redes sociais é desconsiderar um todo maior reduzindo-as em uma rede social não importando o quão competente o cara é e sim, o que ele publica. Essa é uma visão muito enviesada do que é um profissional que trabalha, dentro da área de trabalho a qual me encontro hoje tenho contato com varias pessoas que são arrogantes, estupidas, que falam palavrão, que bebem ate cair entre outros comportamentos que podem “queimar filme” mas que não tira meu olhar do quão bom a pessoa é naquilo que ela faz, afinal o que importa é se ela dá conta do que se propôs a fazer, pode odiar o local de trabalho, mas se produz porque motivo não avalia-la bem? Ter que manter uma postura profissional na rede social é promover principalmente a falsidade onde se é permitido criticar tudo, pai, mãe, governo, filhos, menos o seu local de trabalho, mas não tem problema, a gente não compartilha nas redes sociais, mas falamos com aqueles colegas de trabalho naquela cervejinha depois do expediente e assim vamos vivendo, o importante é nossos superiores não saberem principalmente porque muitos, não sabem lidar com a critica. Quando eu falo que muita gente não sabe gerir são principalmente por colocações como essa, esse olhar nublado as vezes nos impede de conhecer talvez um ótimo profissional, afinal, queremos em nossa empresa um profissional competente ou um profissional que apenas se comporte? Gestor, chefe, Superior são pessoas engraçadas, não podemos compartilhar o quanto nosso trabalho é chato, mas podemos compartilhar sem problemas que amanha é feriado, que vai emendar 7 dias, que sexta feira chegou finalmente, que amanha já é segunda para nossa tristeza e principalmente que as ferias vem ai e ele ainda curte, comenta e compartilha!

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Existe a possibilidade de uma relação Eu-Tu na rede social?

Já havia feito um post anterior onde relatei muito brevemente a necessidade de nos mostrarmos bons em oposição a nos mostrarmos maus, pois o bom, é socialmente aceito. Como pesquisadora das relações humanas nas redes sociais vejo isso com muito mais frequência nos compartilhamentos e atualizações de status. Alguns dias atras uma pessoa compartilhou “sou o que sou e não o que acham”, pessoa essa que eu conheço bem e fiquei a pensar… “Será que é mesmo o que é e não o que acham?”, “Até onde essa frase é realmente verdadeira?” Na mesma semana me deparei com a noticia de que a página de um professor de filosofia na qual me identifico por seus pareceres altamente críticos, tinha sido suspensa, provavelmente, por suas postagens não terem agradado a massa e que não deixavam de ser a outra face da moeda que muitos desconheciam e ate hoje desconhecem. Muito se fala em ser quem somos, em nos desnudarmos para o outro e é ai que faço a indagação, será que somos quem realmente nos mostramos nessas redes? A algum tempo discuti em um artigo o quanto a socialização tira a autenticidade das crianças, claro, não desprezo a necessidade das regras sociais, como Rousseau em seu livro Do contrato social, discute em como os indivíduos se tornam escravos de suas necessidades e principalmente daqueles que os rodeiam onde se busca o tempo todo aparências, orgulho, reconhecimento e status. Em uma de suas frases cliches “O homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe”, não deixa de ter sua razão, o que fazemos com as crianças é molda-las para comportamentos socialmente aceitos onde muitas vezes, sutilmente dizemos através de repreensões que ela não pode ser autêntica quando ela vira pra vovó e diz que não gostou da comida e nós, adultos moldados socialmente dizemos “filho, não devemos falar isso pra vovó, não é educado”, oras, por que não devemos? Devemos ensinar a criança a comer de mau grado e ainda responder quando a avó pergunta se gostou com um sim? É aí que começa todos os sapos engolidos, todos os atos enganosos que fazemos as pessoas, todas as questões não colocadas e tantos adultos mascarados querendo aparecer bonzinhos ou profetizando frases como as citadas acima. Ao se tratar de individuo sociedade, saí do foco sociológico e comecei a flertar com o teórico Martin Buber que define a existência humana de dois tipos diferentes: a um produto de que realmente é e a outra ao que realmente parece. Elas são muitas vezes misturadas, porém, são muito diferentes umas das outras. Ele propõe que cada pessoa tem sua “persona” um arquétipo abordado por Carl Jung onde configura-se a mascara que se está vestindo a fim de agradar os outros para que sejam aceitos, por exemplo, estamos familiarizando com alguém pela primeira vez, usamos então nossa máscara para causarmos uma boa impressão, mas quando ficamos juntos, descobrimos que a primeira vez que nós nos encontramos é diferente do que realmente somos. Nos escritos de Buber, os elementos da relação inter-humana tem como significado comunicar um ao outro como realmente somos, o que ele denomina de palavra principio Eu-Tu, outra palavra principio é definida pelo mesmo autor comoEu-Isso o que a grosso modo, denota as relações objetais precárias de autenticidade. O verdadeiro acontecimento, o nosso desverlar-se conforme descrito por Martin ocorre na esfera da relação entre Eu-Tu e não entre Eu - Isso.A primeira relação leva a confiar e amar enquanto a segunda leva ao ódio, raiva e dor. Por exemplo, um professor e um aluno estão tendo uma discussão sobre um determinado tema, tanto o educador quanto o aluno trocam informações de modo a produzir uma melhor comunicação, o aluno se torna presente no professor e o consequentemente o professor se torna presente no aluno em uma relação totalmente dialógica. No entanto, alguns educadores ainda usam de sua autoridade para ensinar seus alunos conforme acreditam ser o certo e não da forma que o aluno quer que seja, não existe o dialogo e nem a troca, o professor não se presentifica na relação com o aluno e nem o aluno na dele, ambos apenas exercem funções, ensinar e aprender. O homem é basicamente um ser social, desde o momento de nossa concepção no ventre de nossas mães já nos socializamos. Mostramos a nossa mãe o que realmente precisamos e o que realmente somos. De acordo com o desenvolvimento psicossocial de Erik Erikson ,Confiança x Desconfiança , as crianças desenvolvem a confiança de sua mãe ou cuidadores se eles são capazes de cuidar de suas necessidades e se eles são capazes de conforta-los. No entanto, se eles não conseguem atender às necessidades do bebê o mesmo desenvolve a desconfiança em outras pessoas. Este estágio é o período mais crítico e mais importante da vida. A incapacidade de desenvolver a confiança vai levar a crença ao bebê de que o mundo é inconsistente e imprevisível. Presumo que aquelas crianças que desenvolvem desconfiança são suscetíveis à uma relação Eu-Isso.  Ela corresponde ao verdadeiro diálogo proposto por Buber onde define essa relação como dirigir-se ao mundo, à experiência prática no mundo como objetos passíveis de serem conhecidos objetivamente, diferente da relação Eu-Tu, onde a atitude essencial do homem é marcada pelo encontro, relação com outro presente e direta em que se confirma a presença de ambos e o sentido maior desta existência o que ele chama de atitude ontológica e não cognoscente. Quando estamos juntos com nossos amigos muito próximos, nos submetemos muitas vezes ao encontro, onde a experiência com o Tu, dá-se por encontro e na imediatez do instante  E isso é o que inter-humano significa para mim e não mera objetividade onde o Eu vive na experiência cercado de conteúdos, tendo como referência o passado, que é o mundo dos objetos um marco da relação Eu-Isso. Ser amado do jeito que realmente somos em vez de ser amado pelo que não somos é o que todos nós desejamos e levantamos essa bandeira quando o assunto é “Seja o que você é” . Não podemos ser quem somos porque essa atitude gera desconforto para inúmeras pessoas, em um lugar onde pode ser defendido a liberdade de expressão como vem sendo atualmente a rede social pode-se perceber o quanto a mesma não existe, se postarmos algo diferente do que seus seguidores, amigos seja lá o que for quer ouvir já somos vitimas de julgamentos, criticas e corremos ainda o risco de termos nossos perfis denunciados e cabe a nós bancar o preço, a pergunta é? Será que vale a pena bancar um preço social por algo que não somos? É algo semelhante ao que Kurt Cobain disse: “Eu prefiro ser odiado pelo que sou, do que amado por quem eu não sou. ” Mas será que estamos nos mostrando como somos para sermos amados como tal? Usar máscaras é aceitável, mas usá-la o tempo todo não é apropriado. Vale aqui, contabilizar os onus e o bonus de cara relaçao, vale a pena bancar a postura de ser quem eu sou e correr o risco de nao ser compreendida a ser amado com todas a beleza e imposição da relação Eu-Isso?  Dessa forma, eu prefiro ser quem eu sou do que retratar aparições fantasmagóricas de algo que não me pertence enquanto existência. É realmente importante, primeiro conhecer a si mesmo antes de inter-relação com outras pessoas e escolher, consciente, qual das duas posições bancar.